quinta-feira, 30 de julho de 2009

A história da censura na música popular brasileira

Resenha: A censura e a música popular no Brasil
Autor: Roberto M. Moura

“A se considerar as perseguições e preceitos que marcaram – e ainda marcam – a trajetória de gêneros populares como o lundu, o maxixe, o choro e, em especial, o samba, pode-se admitir que sempre houve censura musical no Brasil.” (MOURA, 2001)
Segundo Moura, a censura sempre esteve presente nas artes, mesmo não sendo institucionalizada, mas também através das relações sociais. Neste artigo ele passeia pela história da música popular, confrontando-a com os períodos da evolução política do país e, consequentemente, da censura.
O governo sempre possuiu meios policiais para liberar ou não as músicas que seriam apresentadas ao vivo, o que ocorria com grande freqüência até a década de 1950 no rádio, espetáculos ao ar livre e teatros, através da DCDP (Divisão de Censura e Diversões Públicas). Porém, a não ser por alguns poucos fatos isolados, a produção musical não sofreu ações extremas de censura.
Só em 1935 é que houve uma interferência maior por parte do governo na música. A prefeitura carioca concordou em oficializar o desfile das escolas de samba desde que os sambistas concordassem que as letras das músicas não poderiam ter caráter de protesto, principalmente em um desfile ocorrido na Capital federal (O Rio de Janeiro foi a capital do país até 1960).
Já no período de 1937 a 1945 o Brasil viveu sob o comando de Getúlio Vargas, era o Estado Novo, onde os poderes do chefe do Executivo foram aumentados e foi criado o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) que além de fazer o marketing do ditador – já que eram tempos de culto a personalidade do ditador – possuía poder de censura sobre a cultura e imprensa. Músicas e até sambas-enredo eram censurados.
Já o período da Segunda República de 1945 até 1964, transcorreu em clima de tranqüilidade institucional e isso se refletiu em todas as instâncias, inclusive na música. Neste período o mercado musical foi beneficiado pelas novidades da indústria fonográfica (elepê, stereo, etc.), e pela fase de ouro das rádios num sistema de telecomunicações que levava o sinal a praticamente todos os lares brasileiros, e a partir de 1950 com a chegada da televisão.
Mas chega o ano de 1964 e inaugura-se a fase mais triste na história do país, eram os tempos da ditadura. Os militares assumiram o poder e o primeiro a governar foi o Marechal Castello Branco. Entre um presidente e outro em 13 de dezembro de 1968 o General Costa e Silva assinou o famigerado AI 5, que lhe dava poder de vida e morte sobre cada cidadão brasileiro.
A fase era negra também para a música, letras foram censuradas, cantores presos e exilados. Nesta época negra surgia o movimento Tropicália, que trouxe a luz autores como Chico Buarque – que tinha músicas censuradas apenas por seu nome aparecer como autor, foi quando resolveu criar um pseudônimo, Julinho da Adelaide – e Paulo César Pinehiro, que tornaram-se mestres no uso da metáfora para enganar a censura. Sirlan, que foi caçado pela censura e teve que desistir da carreira, até que, anos depois consegui gravar o elepê Profissão de Fé. Sidney Miller, que cometeu suicídio aos 35 anos. Geraldo Vandré e Taiguara e os baianos Caetano e Gil, que foram perseguidos, presos (Caetano e Gil) e posteriormente exilados. Isto até 1979 quando o presidente Geisel, criou o Conselho Superior de Censura, do qual faziam parte juristas como Daniel Rocha e Ricardo Albin. Até então a censura era de responsabilidade da polícia, e não de pessoas culturalmente preparadas para tal.
A música sempre foi a manifestação mais espontânea de um povo. Entender como ela chegou a ser o que é. É justamente nisso que se apóia a importância deste artigo. Por exemplo: A interferência do governo no samba, isto contribuiu para que o carnaval brasileiro se tornasse uma das festas mais conhecidas do mundo, onde o país para todo mês de fevereiro (fora raras exceções) para ver as escolas passarem, é nesta época também que os cidadãos esquecem que os políticos roubam, que a AIDS existe e que as crianças precisam comer depois que nascem. Mas, o carnaval é preciso. Porém, tudo se transforma: Imagine se Geraldo Vandré, aquele da época de 1950, e não o advogado compositor de homenagens a FAB e às Forças Armadas dos tempos atuais, soubesse que ia ouvir o verso: “Caminhando e cantando e seguindo a canção...”, em mais uma das propagandas do Governo Lula.
Compositores continuam a aparecer, alguns poucos e bons é verdade, mas atualmente a censura é feita por cada um de nós, com o advento da internet, e novas tecnologias chegando é quase impossível impedir que alguém ouça o que quer ouvir. Mas alguns tiveram que sofrer para que chegássemos aqui.

ReferênciaMOURA, Roberto M. A censura e a música popular no Brasil. Disponível em Acesso em: 26 jul 2009.

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